Quando a minha boca se abre e o meu coração se perde é aí que percebo que errei.
Tenho um grande problema… sempre tive o coração demasiado perto da boca. Acho que já devo ter nascido assim, com uma vontade imensa que o meu coração palpite na ponta da minha língua.
Controlar-me seria fácil se não sentisse que a minha vontade de ser é maior do que a minha vontade de ficar. Pode parecer confuso ou esquisito, mas há algo maior que nós próprios que nos faz mover, que nos faz sentir que não somos apenas marionetas e que nos faz sentir que valemos a pena e que estamos aqui por alguma coisa… e é essa coisa que provavelmente me pôs o coração tão acima do sítio onde deveria estar.
Não me parece que exista nada falso quando se abre a boca e o coração não fala, só me parece inútil….não inútil sob um ponto de vista teórico, mas inútil sob o ponto de vista da vida. Se nós temos sentimentos é porque é necessário expressá-los de alguma forma.
É demasiado incómodo ter o coração ao pé da boca, porque quando controlamos a boca o coração vai-nos para os olhos, para a cara, para a cabeça… e não conseguimos disfarçar o que sentimos, porque é demasiadamente forte em nós. Só tenho pena que existam poucas pessoas que têm o coração ao pé da boca, e só lamento ainda mais por haver pessoas que não tem coração ou que têm o coração tão gelado ou tão mal posicionado que as únicas coisas que lhes saem da boca são lascas de vidro…e são essas lascas que cortam, e quando algo nos corta nós não nos aproximamos. Essas pessoas ficam isoladas porque são demasiados vidros…
Ninguém deve dizer tudo o que o seu coração manda, mas também não se deve calar se o seu coração implora para que se diga alguma coisa.